10 de fevereiro de 2011

'Foi um encontro de artistas', diz Paula Fernandes sobre Roberto Carlos

A voz é grave como a de uma cantora de MPB da linhagem de Simone e Ana Carolina, mas o jeito é de menina tímida que cresceu na cidade mineira de Sete Lagoas e arma o sotaque para dizer que faz "pop rural".
Foi com essa combinação que Paula Fernandes, 27 anos, conquistou Roberto Carlos, ao cantar com ele em dezembro em show em Copacabana. "Através da luz do Roberto, pude acender a minha. Ele é um querido, me respeita demais", explica Paula.
Após o flerte (musical, claro), lança o disco "Paula Fernandes ao vivo", com participações de Victor & Leo, Leonardo e Marcus Viana, seu incentivador. Encantar o músico conterrâneo foi o passaporte para as trilhas de novela.
Paula foi ouvida na abertura de "Escrito nas estrelas" ("Quando a chuva passar"), em "América" ("Ave Maria"), "Araguaia" ("Tocando em frente", com Leonardo), "Paraíso" ("Jeito do mato") e "Páginas da vida" (“Dustin in the wind”). O percurso nas tramas globais traz um pouco de cada momento da carreira: dos tempos em que cantava "Ave Maria" nos rodeios, dos 12 aos 17 anos; ao apoio recente recebido dos cantores sertanejos.


G1 - Além das suas composições, você regrava músicas bem diferentes entre si, de Almir Sater a Ivete. O que uma canção precisa ter para você querer gravar?
Paula Fernandes – Ela tem que me emocionar. Se acontecer isso, já conquista meu coração. Tenho que cantar também, ver que deu certo. Mas principalmente tem que ter a ver com quem eu sou. O pré-requisito é me emocionar.

G1 - Como a temporada como cantora em rodeios te ajudou?
Paula – Foi bom em todos os sentidos. Comecei muito nova... Tive oportunidade de cantar de tudo um pouco. Fazia show à noite, cantava "Ave Maria" nas arenas. Aprendi o que fazer e o que não fazer. Hoje eu tenho uma bagagem que uma garota de 27 anos não teria. Fui mudando o jeitinho de cumprimentar, de falar com o público. Sou muito tímida, fui me adaptando dentro da minha capacidade. Tinha um jeito de menina, bem tímida...

G1 - Você lançou um disco que pouco tem a ver com sertanejo, com versões de hits gringos. Cantar em inglês está nos planos? Como surgiu a ideia para o CD [“Dust in the wind”, de 2006]?
Paula – Ele nasceu a partir do convite para cantar canções em inglês, como “Dustin in the wind” [da banda Kansas] para a novela “Páginas da vida”. Resolvi mostrar meu lado intérprete. Adoro esse meu lado. Não tenho planos de lançar algum outro projeto em inglês, mas gostaria no futuro de voltar a cantar em inglês.

G1 - Como é compor com Zezé di Camargo ("Pra você") e Victor Chaves ("Sem você")?
Paula – Ambos são fantásticos como compositores e pessoas, são artistas natos. Eles têm formas diferentes de escrever, mas são cabeças iluminadas. Com o Victor, foram várias situações. Um mandava uma letra para o outro, um mandava melodia pro outro. O Zezé enviou uma letra e eu coloquei a melodia. E mexi na letra. Tem meu dedo também.

G1 - Poucos artistas cantam com Roberto Carlos e você ainda conseguiu encantá-lo. Até que ponto impulsionou sua carreira ou já começa a te chatear ser associada toda hora aos minutos em que você esteve com ele?
Paula –
De forma alguma me chateio. Foi um momento de alegria, que deve ser lembrado mesmo. Sou muito feliz em ter meu nome ligado ao dele. Foi uma assinatura dele e ele tem credibilidade. É um motivo de orgulho. Mas, obviamente, não quero me aproveitar disso. O oportunista não tem talento nenhum. Nunca foi essa a minha intenção. Aconteceu de uma forma natural. Foi um encontro de artistas. Através da luz do Roberto, pude acender a minha. Ele é um querido, me respeita demais.
G1 - Ser bonita ajuda ou atrapalha a carreira?
Paula – O bonito pra mim é muito relativo. Eu posso ser bonita pra você e não ser pra outra pessoa. A beleza vai passar e o que permanece é minha arte, meu trabalho que tenho desde pequena. Agora virei musa... Isso é bem-vindo, mas não me baseio nisso. Muitos compram livro pela capa, mas espero que me comprem pela minha música.

G1 - Nos Estados Unidos, há várias cantoras de country pop que dominam as paradas, muito mais do que os homens do estilo. Mas, no Brasil, as duplas dominam. Você já disse haver preconceito...
Paula – Eu já enfrentei muito preconceito, mas agora as duplas abraçaram o meu trabalho. Ídolos que ouvia a vida toda passaram a me ligar. Eles me dão dicas, viraram fãs. Estou centrada, sempre fui muito responsável. Não sou um produto fabricado. Não me deu vontade de ser famosa e cantar um dia aí... O meu trabalho não me torna melhor do que ninguém, só diferente. O preconceito é cultural. Existe em todas as áreas. É um momento de vitória das mulheres, hoje temos uma presidente.

G1 - Por mais que você se encaixe no sertanejo, você concorda que poderia ser associada à MPB romântica e ter os mesmos fãs que Ana Carolina?
Paula – Eu entendo, mas não gosto de rotular minha música. Não tenho preconceito com estilos, sou compositora. Se vier a inspiração para compor um samba, não vou me reprimir. Se tiverem a necessidade de me rotular, prefiro que seja pop rural. Tenho uma forma mais brejeira de compor, com uma linguagem mais feminina.

G1 – O quanto ter vivido no interior afeta sua música?
Paula – Conheci o verdadeiro sertão de Minas. Eu não poderia inventar e fazer outra coisa. O importante é vender a minha verdade. Não dá para agradar todos, mas estou namissão de trazer uma mensagem positiva com boas melodias e bons arranjos. O mundo está carente de música. Ela acalma o coração, depois de tantas coisas ruins.

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